Fonte: Acritica
Pesquisa aponta que, só em 2021, a Autaz Mirim registrou mais de 500 acidentes envolvendo motocicletas
Um estudo inédito realizado pelo Instituto Cordial apontou que as avenidas Autaz Mirim e Flores são as vias mais perigosas de Manaus quando se trata de acidentes de trânsito envolvendo motocicletas.
A pesquisa observou cruzamento de dados, realizou entrevistas e análises de várias fontes entre abril de 2023 a março de 2024. Além de Manaus, os pesquisadores do instituto a pedido da plataforma Uber, levantaram dados nacionais e focaram os estudos em outras três capitais São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza.
Em entrevista à reportagem de A CRÍTICA, Luis Fernando Villaça Meyer, diretor de operações do Instituto Cordial e supervisor do estudo, destacou que o transporte de passageiros em motocicletas em Manaus se difere das demais capitais brasileiras devido a cidade já possuir um grande histórico do uso de mototáxis.“Manaus se destaca por já ter um histórico de décadas de mototáxi na cidade, o serviço existe desde os anos 1990, como uma resposta à ausência ou deficiência do transporte público coletivo, em algumas áreas ou até à dificuldade de acesso à veículos maiores em determinados locais. Posteriormente, o serviço se espalhou pela cidade toda e, mais recentemente, passou a ser oferecido em aplicativos de transporte”, destacou o supervisor do estudo.
Luis Fernando acrescenta que, apesar disso, ainda existem locais com proibição do mototáxi embarcar e desembarcar passageiros em áreas de embarque e desembarque convencionais de estabelecimentos – por exemplo, são proibidos de entrar em shoppings centers
Um para cada 600
Meyer comenta que o estudo observou que existe em Manaus um mototáxi para cada 600 habitantes e que os mototaxistas da cidade se organizam em associações ou cooperativas para representar seus interesses, promover uma regulamentação adequada e garantir a segurança dos serviços prestados – estes fatores ressaltam como o transporte de passageiros por motocicletas já faz parte da mobilidade urbana da capital amazonense.
Avenida Darcy Vargas em frente ao Amazonas Shopping motoqueiro faz retorno pelo canteiro central da avenida e pedestre atravessa a pista próximo da passarela (Foto: Jeiza Russo)
Além disso, o estudo apontou características próprias da experiência de usuários de transporte por motocicletas, destacando a diferença de mulheres que utilizam esse serviço e até uma tendência maior de sinistros por esse tipo de transporte do que em outros veículos.
Perigo nas avenidas de Manaus
O estudo cita duas avenidas – Autaz Mirim e Flores – como as mais perigosas da capital amazonense por apresentarem um maior número de sinistros relacionados a motocicletas do que as outras analisadas. Só em 2021, a Autaz Mirim registrou mais de 500 ocorrências de sinistros envolvendo motocicletas, por exemplo.
“Segundo os dados gerais de ocorrências de trânsito das vidas monitoradas pela prefeitura de Manaus, a avenida Autaz Mirim é que concentrou a maior parte dos sinistros no ano de 2021. Foram quase 300 sinistros com vítimas e pouco mais de 200 sinistros sem vítimas”, observou o pesquisador.
Entretanto, em uma análise ponderada pela quilometragem da via, foi identificada que a avenida das Flores é a mais perigosa, somando 146 sinistros/km de via. Isso pode estar vinculado, entre outros fatores, à falta de imposição e fiscalização de limites de velocidade.
Um grave acidente de trânsito na avenida Max Teixeira, bairro Cidade Nova, matou um homem de 24 anos, e deixou outros dois feridos em setembro de 2023 (Foto: Junio Matos)
Fluxo intenso e imprudências
Outra avenida que, apesar não ter registrado um grande número de sinistros envolvendo motocicletas, foi apontada como ter um alto fluxo de pedestres e mototaxistas.“A Darcy Vargas não estava entre as mais perigosas, porém, ela marcaria um dos pontos selecionados para o trabalho de campo do estudo, o acesso ao Amazonas Shopping, uma zona com alto fluxo de pessoas e veículos e com alta demanda por mototáxi”, explica Meyer.
Durante os dias de campo na avenida Darcy Vargas, o pesquisador observou que muitos mototaxistas, ao desembarcarem o passageiro e perceberem que há corridas na direção oposta, cruzam com a moto por cima de um meio-fio para voltar ao grande fluxo.
Outro ponto analisado pelo pesquisador é que os pedestres ignoram a passarela que dá acesso ao Amazonas Shopping e optam por atravessar a avenida correndo risco de serem vítimas de acidentes.“No dia da observação, não havia agente de trânsito ou sinalização que inibisse essa atitude e, por se tratar de uma zona com alto fluxo, também foi possível observar mototaxistas em alta velocidade. Na passarela em frente ao local identificado, durante os períodos de observação, que cerca de 40 pessoas se arriscaram a cruzar a via, ao invés de utilizar a passarela.Em geral as pessoas pareciam estar acostumadas com a moto, e não foi identificado um comportamento que expressasse uma dificuldade no desembarque ou embarque”, apontou Meyer.
Acidentes com moto
Segundo os dados analisados do Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (Immu), na época Manaustrans, o total de sinistros de trânsito na cidade entre 2012 e setembro de 2015, 71% foram colisão, 15% queda fortemente associada ao trauma de motociclistas, 9% atropelamento, 3% choque, 2% capotamento e 0,12% tombamento.
Entretanto, quando verificados os tipos de sinistros somente com vítimas fatais no mesmo período, os atropelamentos (348) lideram o ranking, seguidos por colisão (296), queda (84), choque (43), capotamento (27) e tombamento (5).
O estudo apontou também que o maior número de sinistros de trânsito com vítimas fatais em 2015 foram nas zonas Norte e Leste
O estudo aponta que foram 24,15% (57 acidentes) na zona Leste, principalmente em vias como: avenida Autaz Mirim (bairros Jorge Teixeira, Armando Mendes, São José Operário, Tancredo Neves) e avenida Cosme Ferreira (Colônia Antônio Aleixo, Zumbi, São José e Coroado).
O percentual de 23,31% (55 casos), refere-se, principalmente, a sinistros ocorridos na avenida . Torquato Tapajós, com fluxo intenso de veículos (bairros Santa Etelvina e Novo Israel) e está situada entre as regiões Norte e Oeste da cidade.