"Alguns afirmam que motociclista é raça ruim, motociclista é marginal". Saiba os desafios de quem ganha a vida sobre duas rodas em Manaus
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Não tão distante assim, os cavaleiros de aço de outrora, em um rápido devaneio histórico ao movimento de maior brilhantismo econômico de Manaus, a época áurea da borracha, podem ser percebidos fazendo bom uso de seus aparatos de locomoção.

Uma época em que a avenida mais famosa de Manaus, a Eduardo Ribeiro, de nome homônimo do governante da época, era totalmente desprovida de locomoção à vapor, diesel, gasolina e como hoje se tornou “moda”, o gás.

Cessando esse nostálgico passeio, a grandiosidade de pensamento e ideal populacional e estrutural não sobreviveram às mudanças que o tempo e o descaso governamental tomaram como postura. Não sobreviveu ao crescimento populacional desenfreado e desordenado.

100 anos após a revolução da seringa, o pensamento do povo manauara se individualizou. As pontes que abrigavam um sonho de imponência absoluta e de se tornar uma referência estrutural, como Brasília foi editada por Oscar Niemeyer, tornaram-se verdadeiros pesadelos orçamentários aos governantes.

Em entrevista ao Manaus em Trânsito, Sidney Fernandes, 37, motoqueiro, comerciante e ator de teatro nos fala um pouco sobre como é ser motoqueiro em Manaus.

“Hoje mesmo, podemos tentar nos locomover ao centro da cidade, partindo da zona Sul, dos bairros que o compreendem como Crespo, Betânia, Colônia Oliveira Machado, Educandos, entre outros, dará de cara com a famosa ponte do Educandos, principal via que liga as regiões ao centro, totalmente danificada e a muitos meses em ‘reparos’, talvez aguardando a eleição.”

A classe “duas rodas”, não se exclui da grande massa inconsciente. Enquanto uns querem fazer “o certo”, outros abusam do “errado”, e ainda, em ocasiões, os que querem fazer o certo, são “levados a fazer o errado”, como por exemplo o “andar nos corredores”, pois assim se conhece os vãos que ficam entre os carros, Sidney nos acrescenta: “eu mesmo sofri vários acidentes, por negligência minha, nos ditos corredores, mas também digo a essa mesma situação, que a sofri, por falta de opção. O sofri pela classe duas rodas, ser marginalizada por ser um veículo menor que os outros, logo quem tem uma classe quatro rodas, quase sempre, ignora a classe menos, e daí saem muitas fatalidades.”

Tendo em vista todos os problemas estruturais e muitas vezes o descaso da própria sociedade, Sidney dá seu ponto de vista em relação a melhorias que poderiam ser efetuadas nas vias de Manaus.

“Não creio que uma mudança estrutural seria uma solução, como, por exemplo, criar um ”Moto Via” assim como existe a “Faixa Azul”, utilizada pelos ônibus. O que creio, é que a mudança, deve ser iniciada pelo próprio ser humano, pois existe uma possibilidade de mudar o trânsito para melhor, para a classe duas rodas ser mais respeitada, mais unida, e consequentemente, o fluxo se dê com mais agilidade, segurança e consciência, antes de gastar milhões com estruturas que quase nunca respondem à verdadeira necessidade que o trânsito, é preciso dar mais atenção à educação pessoal de condutores. É preciso resgatar os sonhos da Belle Epóque. Nessa medida sim, seu acredito ser um ponto de partida importante para o início de um bom trânsito no futuro.”

O Motoqueiro Fernando Lucas Brandão, 21, estudante de Direito também expressa sua visão em relação as dificuldades encontradas no dia a dia. “A primeira dificuldade que nós motociclistas encontramos é o preconceito com nossa classe, alguns afirmam que “motociclista é raça ruim, motociclista é marginal.” A segunda dificuldade, segundo ele, é a falta de educação e empatia dos motoristas de veículos diversos (em especial carros).

Lucas afirma que ser motoqueiro é uma aventura, é sair de casa e não saber se irá voltar, porém moto pode ser um meio de financeiro como também pode ser uma grande paixão, a sensação de liberdade e a adrenalina de estar sob duas rodas faz tudo ficar ainda mais eletrizante.

Ele menciona alguns pontos que precisam ser melhorados, como “alterações no plano de mobilidade urbana para beneficiar os motociclistas, a exemplo do que ocorre na cidade de São Paulo. Todos temos consciência que existe faixa de pedestre em praticamente todos semáforos, entre a faixa de pedestre e o de veículos com quatro rodas ou mais existe um lugar reservado para motociclistas, ou seja, um lugar que possibilita os motociclistas estarem e um espaço reservado e de certa forma mais segura, pois todos sabemos que é totalmente comum motos estarem entre (ao lado) de carros, ônibus, caminhões, carretas, estes veículos possuem muitos pontos cegos, isso é um perigo enorme para nossa classe”, destaca.

Em uma metrópole, todos buscam seu espaço e Manaus não é nada diferente, com uma das maiores frotas de motos do Brasil, ainda existe muito a ser feito para o beneficios daqueles que amam estar sobre duas rodas.

Reportagem: Yasnara Marinho

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