Carros pré-série são seguros, mas consumidores deveriam ser alertados, dizem especialistas
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O recall de carros pré-série da Volkswagen levantou dúvidas sobre a venda desse tipo de veículo no Brasil. Autoesporte entrevistou especialistas para entender mais sobre essa prática e seus possíveis riscos.

Engenheiros com experiência na produção de carros afirmam que a prática não é comum, como diz a montadora, mas que os pré-série não representam, necessariamente, algum perigo. Já os defensores dos direitos do consumidor afirmam que os clientes deveriam ser avisados que estão comprando um carro desse tipo.

Quando comunicou o recall de 194 carros vendidos sem a devida documentação, a própria Volkswagen do Brasil afirmou que “a venda de veículos pré-série não é ilegal” e que é, de certa forma, comum. Mas, que “a partir de agora, novos processos foram estabelecidos no sentido de impedir a comercialização de veículos nessas condições”.

Mas, afinal, o que é um carro pré-série?

São modelos fabricados antes de a linha de produção receber a aprovação final para a montagem em série. Esses veículos passam por diversas etapas de desenvolvimento. Nas iniciais, o carro está em uma fase mais experimentale costuma ser flagrado com camuflagem intensa nas ruas. Nas finais, a produção deles é mais parecida com a do veículo de série, como se eles fossem uma espécie de modelo de produção.

Para o engenheiro industrial mecânico e consultor Enio Feijó, que foi diretor de qualidade na Ford América do Sul, a venda dos carros pré-série em estágios avançados de desenvolvimento é segura, mas não é comum.

“Um veículo de pré-série é usado para treinamento da linha e para verificar se todas as peças se encaixam. Eventualmente, para rodar e analisar algum problema dinâmico ou ruídos. Ele não é normalmente autorizado para a venda pela montadora. Mas, isso é uma decisão de cada empresa. Não existe legislação que proíba a venda desse veículo, uma vez que ele tenha recebido a documentação adequada”, explica.

O presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, Flávio Salão tem opinião semelhante. Para ele, o risco para o proprietário de um carro pré-série é quase nulo.

“Esses carros pré-série, que são considerados veículos vendáveis, têm o objetivo de fazer a finalização da linha de montagem, ou seja, é uma etapa de verificação final. Todos os produtos foram validados dentro do processo de desenvolvimento. Os componentes dos carros ou foram aprovados ou estão em fase final de aprovação. Um carro pré-série é, tecnicamente, um veículo final. Se não houve nenhum problema, é um carro de qualidade tão boa quanto os outros carros”, afirma.

Mas, vale lembrar que existem vários tipos de carros pré-série e que eles são produzidos em diferentes etapas do processo de produção de um carro. Para o presidente da associação, os carros produzidos no início do projeto “certamente não teriam condições de serem vendidos”.

Autoesportequestionou à Volkswagen em qual etapa da fabricação de pré-séries os carros convocados no recall estavam, mas a montadora não respondeu.

Feijó explica que esses carros não costumam ir para as concessionárias por uma questão de imagem da empresa. “Veículos de pré-série não são autorizados para a venda muitas vezes não por segurança, mas principalmente por conta do acabamento. A porta pode não estar exatamente alinhada com o para-lama, o esforço para o fechamento da porta pode estar um pouco maior, ou pode ter uma entrada de água no teste de água porque uma porca não está ajustada. A maioria [dos possíveis problemas depende só de] ajuste fino. No meu modo de ver, não deveria aparecer nada grave”, afirma.

Ele explica que esses carros já contam com todos os componentes aprovados para a fabricação. Mas, quando não são vendidos, os pré-série costumam ser sucateados.

Isso não diminui a necessidade de os consumidores atenderem ao recall que foi anunciado nos últimos dias. É que o defeito, segundo a Volkswagen, está na ausência de uma documentação específica.

Sem o “registro de liberação”, a empresa não consegue levantar o “histórico de rastreamento de todas as peças”. Por conta disso, “não é possível assegurar que as 194 unidades em questão atendam aos padrões e regulamentos exigidos”.

Aviso aos consumidores

Apesar de não ser considerado um caso de risco pelos engenheiros, o episódio aponta para falhas no processo de venda desses carros. Isso porque os consumidores podem não ter sido alertados de que estavam levando para casa um modelo pré-série.

“A Volkswagen não poderia jamais ter colocado esse carro à venda e as concessionárias não deixam de ter suas responsabilidades porque elas estão vendendo carros pré-série e não estão informando os consumidores”, afirma Maria Inês Dolci, vice-presidente do conselho diretor da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, a Proteste.

Para ela, “o consumidor teria que saber que é um carro pré-série” antes de fechar a compra. Além disso, alerta que o processo de venda desse tipo de carro deveria ser regulamentado.

Foto: AutoEsporte

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