Um leitor que não quer ser identificado enfrenta dificuldade para comprar um veículo seminovo. Ele está há um mês pesquisando e visitando concessionárias de veículos em Manaus (AM), mas ainda não conseguiu fechar negócio. O problema principal é o preço, quase sempre acima da tabela FIPE. Um Renault Logan 1.0 Autentic 2018, por exemplo, custa cerca de R$ 29 mil na tabela, mas, na hora de ir às compras, a realidade é bem diferente.
“No anúncio de uma loja no OLX, consegui negociar o carro por R$ 31 mil, R$ 2 mil acima da tabela, mas não incluía a transferência e a quilometragem estava muito alta, mais de 70 mil km rodados. Procurei outro da mesma versão, mesmo ano, na mesma loja, mas em melhores condições e baixa quilometragem, mas saía por R$ 40 mil. É surreal ter um carro por R$ 11 mil acima da tabela em Manaus”, afirma.
Em uma pesquisa rápida em site de compra e venda, encontramos o Chevrolet Onix LT 1.0 Flex 2020 por R$ 56 mil e o Ford Ka Sedan 1.5 Flex 2018/2019 por R$ 44 mil, sendo que pela tabela FIPE os valores seriam de: R$ 55 mil e R$ 41 mil, respectivamente.
O perito automotivo Bruno Daibert, da Auto Expert Treinamentos, afirma que os preços altos e condições ruins dos veículos não são uma condição exclusiva de Manaus, mas de todo o país e é reflexo da pandemia de Covid-19.
Com o início da pandemia, as montadoras diminuíram e até paralisaram a produção de veículos novos e, como todo carro novo vai ser usado ou seminovo logo depois, entra a lei da oferta e da procura, com tendência natural de alta nos preços.
“Houve delay na oferta de carros novos e, mesmo agora, com a retomada gradual da economia, as montadoras demoram um tempo para conseguir regularizar a produção. Então houve uma queda na oferta de veículos. E os veículos usados e seminovos existem em função do ciclo do mercado. Você tem veículos 0 km entrando no mercado e, automaticamente, seminovos e usados entrando na troca desses carros, então são os próprios veículos novos que acabam abastecendo o mercado”, explica.
Jociandro Vichietti, proprietário da concessionária RA Brasil em Manaus, (AM) conta que as lojas de seminovos estão com dificuldade para repor os estoques, não só por causa do preço alto, mas também pela falta de carro disponível no mercado. “O único que está sendo comercializado em grandes proporções é o seminovo porque o 0 km não foi restabelecido em grandes proporções”, afima. Por isso, todo o estoque de seminovos da concessionária está acima da tapela FIPE.
E mesmo com os preços bem elevados, o mercado de seminovos está aquecido, com procura cada vez maior. “Os consumidores estão dispostos a comprar e estão comprando, mas o problema é que não tem carro suficiente para a demanda que existe. Só teremos mais carros seminovos circulando no mercado se vender mais 0 km”, diz.
O especialista Bruno Daibert explica que a tabela FIPE não consegue acompanhar a realidade dinâmica do mercado e alerta: “quando tem uma demanda maior do que a oferta, a qualidade também cai porque carros ruins ou com qualidade inferior acabam sendo ofertados como sendo carros bons, porque existe demanda para isso”.
A avaliação de Daibert é que se trata de uma bolha no mercado e esse é o momento ideal para vender, mas não para comprar. Para quem está pesquisando um veículo usado ou seminovo, o ideal é aguardar um pouco. A expectativa é que a situação normalize quando as montadoras regularizarem a produção de carros novos.
Uma dica do leitor que está a procura de seminovo em Manaus é tomar cuidado com os anúncios de venda de veículos “no boleto”, que confunde quem está pesquisando. “Isso é propaganda enganosa, porque a pessoa não está vendendo o veículo, mas sim um financiamento. A pessoa não tem o carro que consta na foto do anúncio”, afirma. Em outros casos, o comprador tenta passar o financiamento do veículo e, na maioria das vezes, não compensa.
Reportagem: Ana Maria Reis
Foto: Divulgação / Concessionária RA Brasil